ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: A PROXIMIDADE DO CONTEXTO NAS AULAS DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO: DETERMINANDO O TEOR DE VITAMINA C

AUTORES: ATAIDE, M.C.E.S. (UFRN) ; SILVA, M.G.L. (UFRN)

RESUMO: A criação de contexto nas aulas da educação básica é um dos princípios estruturadores expressos nos documentos legais brasileiros (BRASIL, 1996). Entre os temas passíveis de ser contextualizado estão à relação entre o controle de qualidade de alimentos industrializados e sua comparação com os dados fornecidos. Tais atividades promovem uma integração entre conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. O tema selecionado neste artigo foi a determinação experimental do teor de vitamina C e sua comparação com os valores expressos nos rótulos. Tal atividade foi organizada em uma unidade didática e apresentada para professores e licenciandos. Observou-se que a maior dificuldade dos participantes foi relacionada aos cálculos matemáticos referentes à determinação do teor de vitamina C.

PALAVRAS CHAVES: experimentação, saberes disciplinares, conteúdos

INTRODUÇÃO: A agência formadora pode ser entendida como um espaço para a elaboração de saberes. A literatura expressa que os professores em sua prática se apóiam em conhecimentos especializados e formalizados (RAMALHO et al.2003 ). Entre estes saberes destacamos os disciplinares, curriculares e o conhecimento pedagógico do conteúdo. Sem dúvida que esses saberes são (re)construídos no exercício da profissão e se refletem também nos saberes transmitidos pela agência formadora na formação inicial. Neste artigo relata-se uma experiência de formação de professores com dois cursos pontuais procurando identificar o amálgama destes saberes na discussão de um tema potencialmente integrador e formativo dos alunos no ensino médio. O tema selecionado foi a determinação do teor de ácido ascórbico em sucos industrializados. Tal determinação é proposta por meio de experimentação. Este, conhecido também como vitamina C é de fundamental importância para o homem sendo sua obtenção por meio de ingestão (LEHNINGER et al. 1993). Quando o organismo é deficiente nesta vitamina pode ocasionar a síntese defeituosa do tecido colagenoso e o desenvolvimento da doença conhecida como escorbuto. Diante da importância que esta vitamina representa para a saúde humana, surgiu a proposta de utilizar este tema para a atividade experimental como recurso metodológico visando despertar no aluno um caráter investigativo. Aliada a esta discussão perpassava implicitamente que as atividades experimentais podem ser trabalhadas de forma diferente da perspectiva tradicional. Esta proposta sugere mudanças metodológicas sem assumir o aluno como um pequeno investigador (SILVA et al. 2004). Intencionava-se proporcionar um espaço onde pudessem ser refletidos tais temáticas fornecendo elementos para a (re)construção de saberes.

MATERIAL E MÉTODOS: É usual professores apontarem como dificuldade para utilizar uma atividade investigativa na escola a falta de infra-estrutura e a pouca preparação para elaborar tais atividades. Pensando nisto, foi elaborada uma unidade didática discutindo as potencialidades de uma atividade investigativa por meio de um experimento. Este material foi apresentado a professores e licenciandos de química da UFRN em 2 oficinas em 2006 e 2007, dentro do projeto “Criação de Espaços Multidisciplinares para Capacitação de Professores de Ciências da Natureza e Matemática do Ensino Médio do Rio Grande do Norte”. Nestas oficinas o objetivo é apresentar uma série de atividades experimentais acessíveis para os alunos da educação básica. São discutidos os fundamentos teóricos dos experimentos e realizadas as práticas. Neste espaço apresentamos a seqüência de atividades (SANMART, 2000) baseadas no tema Vitamina C incluindo um experimento com materiais alternativos e de baixo custo, podendo ser realizado em sala de aula. (SILVA, et al. 1995). Para Moraes e Mancuso (2004) o trabalho de laboratório pode ser conduzido em salas de aula comuns. A atividade foi apresentada durante o curso Tópicos de Ensino de Química. Participaram 11 professores da rede pública de ensino do Rio Grande do Norte e 23 alunos do curso de licenciatura em química da UFRN. Após a discussão das atividades foi aplicado um questionário com 5 perguntas abertas que abordavam: os conteúdos possíveis de serem abordados; as dificuldades da atividade; as vantagens; as sugestões de melhoria e como o professor ou futuro professor (re)organizaria esta atividade em sua sala de aula. As respostas foram organizadas em tabelas, categorizadas e determinados os percentuais (RICHARDSON, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com relação aos conteúdos, o mais citado pelos professores foi concentração de soluções (64%) e em menor citação reações químicas, funções orgânicas, titulação, estequiometria, ácidos e bases, estrutura molecular, cinética, indicadores, unidades de medidas. Já 35% dos licenciandos citaram estequiometria. Também citaram tipos de soluções (cálculos e medidas de concentração), balanceamento, oxi-redução, fenômenos físicos e químicos, medidas de pH, indicadores, ácidos e bases, reação de neutralização, reações orgânicas e inorgânicas, reagente limitante, titulação, evidências de reação química, equilíbrio químico, origem da vitamina C, nomenclatura de compostos, a importância da vitamina, direito do consumidor. Pode-se observar que os licenciandos sinalizam conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, enquanto os professores se detêm apenas nos conceituais. Entre as dificuldades, 36% dos professores afirmaram para a coloração da amostra e o reconhecimento do ponto de viragem. Já todos licenciandos afirmaram ser o cálculo estequiométrico e outros menos citados foram à compreensão dos conceitos envolvidos nas atividades. Entre as vantagens ambos os grupos sinalizaram para a motivação dos alunos e a associação com outras disciplinas. Cabe destacar que muitos afirmaram que as atividades permitem que o aluno “comprove” na prática o que viu na teoria. O que demonstra que a proposta de mudança metodológica não foi alcançada em um curso pontual. Com relação a (re)organização das atividades, os professores sugerem usar com substâncias ácidas, ou com óxido-redução. Já os licenciandos propõem trabalhar em conjunto com nutrientes na alimentação saudável, soluções, ácidos e bases, evidências de uma reação química, oxidação-redução, pH, após o conteúdo de estequiometria.

CONCLUSÕES: Nosso objetivo era discutir uma proposta que ultrapassasse a visão tradicional de ensino que propiciasse ao aluno uma atividade investigativa com significado. Entretanto, propostas de espaço de discussão formativa não podem ser pontuais, mesmo reconhecendo que estes fornecem elementos valiosos para uma reflexão sobre a formação docente. Ressalta-se a dificuldade de articulação entre os saberes disciplinares e, em alguns casos, uma ausência sobre o uso da estequiometria. Outro ponto é a não articulação dos diferentes tipos de conteúdos nas atividades o que reforça a visão positivista da Ciência

AGRADECIMENTOS: Ao CNPq, à FINEP e ao Museu Parque da Ciência do RN.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: LEHNINGER, A.L. et al. Princípios de Bioquímica. São Paulo; Sarvier, 1993
MORAES, R.; MANCUSO, R. (org.). A Natureza das Atividades Experimentais no Ensino de Ciências – Um Programa de Pesquisa Educativa nos Cursos de Licenciatura. Educação em Ciência. Ed. Ijuí. 2004.
RICHARDSON, R. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas. 1999.
RAMALHO, B. L., NUÑEZ, I. B., GAUTHIER, C. Formar o professor. Profissionalizar o ensino: perspectivas e desafios. Porto Alegre: Sulina. 2003.
SILVA, S.L.A.; FERREIRA, G.A.L. e SILVA, R.R. À Procura da Vitamina C. Revista Química Nova na Escola, n. 2, p. 31-32, 1995.
SANMARTÍ, N. El diseño de unidades didácticas. In: PERALES, F. J.;CAÑAL, P. (Orgs). Didáctica de las Ciencias Experimentales. Barcelona: Marfil. 2000.
SILVA, M.G.L et al. Dos modelos de mudança conceitual à aprendizagem como pesquisa orientada. In: RAMALHO, B. L., NUÑEZ, I.B. Fundamentos do ensino-aprendizagem das Ciências Naturais e da Matemática: o novo ensino médio. Porto Alegre: Sulina. 2004