ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: Trabalhando atividades experimentais como elemento na formação de professores de Química: o estudo do efeito tampão

AUTORES: SILVA; M.G.L. (UFRN) ; CUNHA, A. (UFRN)

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma experiência formativa, por meio de atividades experimentais, com professores e licenciandos de Química da UFRN. Neste espaço foi trabalhado o experimento “Demonstração do efeito tampão de comprimidos efervescentes”. Para tanto, foi elaborado um material didático e apresentado aos professores e licenciandos para discutir as vantagens e limitações da atividade. Para ambos os grupos utilizaram como instrumento um questionário com 4 perguntas abertas abordando as opiniões dos 39 participantes sobre conteúdos conceituais e procedimentais; os aspectos positivos e negativos e as sugestões para melhoria

PALAVRAS CHAVES: atividades experimentais, formação de professores, efeito tampão

INTRODUÇÃO: A utilização de atividades experimentais em escolas da educação básica, muitas vezes, se restringe a uma visão positivista e fechada, com roteiros pré-elaborados com pouco significado para o alunado. Tal postura alimenta a visão simplista de que fazer experimentos melhora o aprendizado de química (LUCAS et al. 1989). Na UFRN foram organizadas algumas oficinas para discutir com professores e licenciandos a polêmica de natureza pedagógica e epistemológica que permeia tal temática. Para tanto, foram organizados material didático explicativo que fornecesse subsídios para situar os participantes no cerne desta polêmica, apresentando a classificação das atividades experimentais e como estas refletiam as concepções da ciência Química. Além disso, as investigações didáticas sinalizam que entre as dificuldades os professores estão o fato da pouca relação dos conteúdos conceituais e procedimentais envolvidos no experimento, desperdiçando a potencialidade da atividade (GONÇALVES; GALIAZZI, 2005). Entre os pontos de natureza epistemológica relacionam-se os modelos de ensino tradicional e por descoberta. Já os de natureza pedagógica podem estar relacionados a falta de saberes disciplinares e ao conhecimento pedagógico do conteúdo, a preparação para trabalhar as atividades experimentais ou da habilidade para adequar os experimentos a realidade escolar com materiais de baixo custo entre outros. Assume-se neste trabalho que a agência formadora tem o papel social tanto de fornecer subsídios para que preparar o futuro professor para sua atividade docente e no caso da Química de atuar, planejar, analisar, adequar o trabalho prático na escola como de contribuir com a reflexão do professor em exercício sobre a ação docente.

MATERIAL E MÉTODOS: A pesquisa desenvolveu-se em oficinas para professores e licenciandos. Estas ocorreram em 2006 e 2007. Participando 26 licenciandos e 13 professores. Para tanto, inicialmente foram pesquisados diversos experimentos, organizados em um banco de dados e selecionados alguns para o Ensino Médio. Estes foram testados e adequados com materiais de baixo custo presentes no laboratório de Instrumentação para o Ensino de Química da UFRN. Entre os experimentos optou-se por um que abordava o conceito de solução tampão podendo ser utilizado com estudantes da 2ª série (MARCONATO et al., 2004; LIMA et al.1995). Após a seleção foi elaborada uma cartilha intitulada “Equilíbrio ácido-base em diferentes soluções” que continha o objetivo do experimento, os reagentes e as vidrarias, os conteúdos conceituais e procedimentais, as etapas do experimento, uma sugestão de avaliação, os cuidados de segurança e as referências. Após esta etapa a cartilha foi apresentada a professores de química da rede pública e a licenciandos em dois mini-cursos. A metodologia dos mini-cursos procurava inicialmente conhecer e socializar as opiniões dos participantes sobre o uso de atividades experimentais. Apresentava-se por meio de uma exposição dialogada a classificação das atividades experimentais e a relação com os modelos de ensino (tradicional, por descoberta e de investigação dirigida). Posteriormente apresentou-se a cartilha e discutiu-se o experimento procurando organizar a atividade a um tipo de experimento. A seguir os participantes realizaram o experimento e no final respondiam a um questionário com 4 perguntas abertas. Este instrumento abordava as potencialidades do experimento; se utilizariam ou não na escola; no caso afirmativo como fariam; as dificuldades do experimento e as sugestões para melhoria

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em 2007 foram organizados dois mini-cursos, o primeiro para 26 licenciandos em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e o segundo para 13 professores de diferentes municípios do Rio Grande do Norte (Natal, Mossoró, Nísia Floresta, Ceará - Mirim, Apodi e Caicó). No primeiro mini-curso, dos 26 licenciandos participantes apenas 21 responderam o instrumento de pesquisa e no segundo mini-curso, dos 13 professores participantes obtivemos apenas 11 instrumentos. Os licenciandos, 42,86%, não encontraram nenhum tipo de dificuldade, outros 33,33%, apontaram como principal dificuldade a preparação das soluções utilizadas no experimento, já os professores, 63,64%, não encontraram nenhum tipo de dificuldade. Quanto aos conteúdos conceituais passíveis de serem abordados neste experimento, tanto licenciandos quanto professores apontaram como os mais citados principalmente: ácidos e bases (53,12%), pH, pOH (46,87%), indicadores (40,62%) e titulação (12,5%). O que podemos destacar é que apenas 6,25% dos participantes sinalizaram os conceitos de solução, equilíbrio químico e reações químicas no experimento. Na categoria “dificuldade e ou potencialidade” tanto licenciandos como professores acharam o conteúdo de fácil explicação e compreensão podendo ser utilizado em sala de aula, 71,87%. Por final, os licenciados, 42,86%, propuseram o aumento no número de reagentes (outros indicadores, ácidos e bases) utilizados mais próximos aos usos dos estudantes, enquanto os professores acharam que as modificações necessárias já tinham sido realizadas. Nenhum dos grupos sugeriu outra proposta de abordagem da atividade, limitando-se a utilização demonstrativa ou ainda realizada pelos alunos, mas mantendo a perspectiva de comprovação da teoria.

CONCLUSÕES: Destacamos neste relato a boa participação nas atividades de licenciandos e professores, o que sinaliza que tais ações são bem recebidas e necessárias para compor um acervo de saberes docentes. Sendo mais intensa a participação dos licenciandos diante dos professores, apesar de ambos ainda mostrarem mais dificuldade quanto à utilização de experimentos como instrumento facilitador na sala de aula. Por fim, sinalizamos para a importância da agência formadora olhar mais atentamente a desarticulação entre teoria e prática observada tanto no discurso dos professores como dos licenciandos.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos aos participantes da pesquisa (professores e licenciandos), ao apoio da FINEP, Programa de Educação Tutorial (PET) e Secretaria de Educação do RN.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: GONÇALVES, F. P.; GALIAZZI, M.C. A natureza das atividades experimentais no ensino de Ciências: um programa de pesquisa educativa nos cursos de Licenciatura. In: MORAES, R.; MANCUSO, R. Educação em Ciências: produção de currículo e formação de professores. Ijuí: UNIJUÍ, 2004. p.237-252.
LUCAS, A.M. et al. Contra las interpretaciones simplistas de los resultados de los experimentos realizados en el aula. Enseñanza de las Ciencias, n.8, v.1, p. 11-16, 1989.
LIMA, V. A. et al. Demonstração do efeito tampão de comprimidos efervescentes com extrato de repolho roxo. Química Nova na Escola, n.1, 1995.
MARCONATO, J. C. et al. Solução-tampão: uma proposta experimental usando materiais de baixo custo. Química Nova na Escola, n.20, 2004.