ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: Com Ciência Química: Um projeto transdisciplinar no CEFET-PI

AUTORES: PINHEIRO, MAURÍCIO FAÇANHA (CEFET-PI)

RESUMO: O Projeto Com Ciência Química foi planejado como recurso didático para aumentar o interesse e facilitar a aprendizagem de Química, porém de forma transdisciplinar. Funciona desde o dia 24 de maio na UNED do CEFET em Picos com 24 estudantes. Este trabalho relata a investigação realizada ainda no início, tendo como sujeitos da pesquisa os estudantes do projeto. A pesquisa de opinião foi conduzida com questionários de pergutas mistas e espaço para comentários. Os resultados foram organizados em gráficos e alguns comentários foram explicitados para revelar de forma mais fidedigna as impressões iniciais sobre o enfoque transdisciplinar na aprendizagem de conceitos científicos. As pessoas questionadas evidenciaram a eficácia do projeto através da importância atribuída às atividades.

PALAVRAS CHAVES: transdisciplinaridade, educação química, contextualização

INTRODUÇÃO: A Química tem sido lecionada, como as demais áreas classificadas como exatas ou naturais, de forma isolada, sem o mínimo enfoque interdisciplinar, muito menos com uma abordagem transdisciplinar. Uma Ciência sem consciência. Essa forma de ensino tem causado inúmeros problemas à aquisição de conhecimento, destacando-se: a visão fragmentada do conhecimento científico, a ignorância em relação ao problemas causados ao meio ambiente, a dissociação entre Ciência, Arte, Filosofia e demais produções culturais, assim como uma barreira supostamente intransponível entre Razão e Intuição. “Se as posições reducionistas contribuíram muito para o grande desenvolvimento tecnológico, cooperaram também para a fragmentação crescente da realidade e das disciplinas e para a redução do sentido da vida”. (SOMMERMAN, 2006, p. 19). Esse equívoco, fruto da excessiva especialização dos ramos científicos, tem causado confusões epistemológicas graves e prejuízos irreparáveis à Educação e à Ciência. A abordagem tecnicista inibe a criatividade humana, indispensável para o progresso da Ciência. A transdisciplinaridade surgiu com o intuito de reunir as supostas fronteiras do conhecimento humano, separadas pelo modelo mecanicista de Ciência e Educação que perdura até hoje na maioria das escolas. Ciência pode ser lecionada com Consciência, sem perder seu rigor metodológico. Para isso, busca-se integrar as descobertas científicas às demais produções culturais, enfatizando a importância da História no condicionamento das atividades humanas, dentre elas a principal responsável pela perpetuação da espécie e melhoria nas condições de vida, a Educação. Piaget foi o primeiro a usar o termo transdisciplinar, esclarecido depois em 1994, no I Congresso Mundial, em Portugal, com a carta da transdisciplinaridade.

MATERIAL E MÉTODOS: Como recurso didático transdisciplinar, a proposta alternativa do Projeto Com Ciência Química é aqui investigada, tendo como principais sujeitos da pesquisa aqueles para quem se destinam as atividades imaginadas. Duas equipes de 12 estudantes do primeiro ano do ensino médio se reúnem semanalmente com o professor da disciplina de Química, o autor da pesquisa, para discutir assuntos integrando as diversas formas de conhecimento a algum experimento simples, realizado geralmente com materiais do cotidiano. O principal instrumento de coleta das informações, além da observação participante, foi um questionário com 6 perguntas, 4 de múltipla escolha com espaço para comentários e 2 dissertativas. Foram questionadas 17 pessoas, devido à desistência de alguns e ausência de outras no dia do preenchimento do questionário. A observação sistemática assumiu um ligeiro caráter etnográfico, apesar do pouco tempo de convivência com os grupos. A proposta metodológica como um ciclo que “inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto das técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador” (MINAYO, 2001, p. 16), indica a orientação dessa investigação como pesquisa participante. Devido ao caráter democrático com que os assuntos têm sido abordados, foram evidenciados princípios transdisciplinares como o diálogo interreligioso. Nesse contexto é que a observação participante tem sido indissociável do processo de pesquisa, pois a interação com as pessoas pesquisadas se inclui nos objetivos a serem alcançados, enquanto princípio transdisciplinar e como forma de transcender as limitações das pesquisas classicamente realizadas na área de Educação Química.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As expectativas foram confirmadas. Todas as respostas ao questionamento se a abordagem transdisciplinar facilita a compreensão dos assuntos estudados foram positivas. Dentre os 72% que consideram que facilita muito, surgiram comentários reveladores: “ajuda na compreensão de outras matérias”, “aumenta conhecimento, que as vezes não seria abordado no horário escolar”, “os assuntos são muito variados”. Uma das que consideram que facilita pouco argumentou que: “não é voltado a um determinado assunto”, possivelmente um indício de uma arraigada cultura disciplinar. Na pergunta sobre em que nível de educação esse enfoque transdisciplinar deve ser iniciado, percebeu-se o desconhecimento do sistema educacional brasileiro, havendo muita confusão, mas um comentário de quem indicou o ensino infantil, é digno de registro: “É sempre bom começar de criança, pois desenvolve até a imaginação deles”. A questão seguinte se referia à possibilidade dos conteúdos escolares serem lecionados transdisciplinarmente. Somente uma se pronunciou contrária, justificando que “não iria focar em um determinado assunto”. Das opiniões a favor, a maioria (44%) considera possível algumas vezes, 31% quase sempre, uma manifestando a preocupação já apontada, “mas que tenha foco em algo” e 25% consideraram ser possível sempre. Questionadas se perguntas e relatos pessoais antes da explanação contribuem para a abordagem transdisciplinar, houve unanimidade afirmativa. Um depoimento dos 53% que disseram contribuir muito se mostrou representativo dessa abordagem: “o aluno se torna parte da coisa, ele interage, o que é ótimo, pois passa a gostar desse tipo de aula”. Dentre as principais vantagens elencadas desse estudo em relação ao tradicional (disciplinar), surgiu: "supera todas as disciplinas e as unem"





CONCLUSÕES: A unanimidade em afirmar que a abordagem transdisciplinar facilita a compreensão dos assuntos estudados já evidencia sua viabilidade para os níveis fundamental e médio e a importância desse estudo. É necessário romper com as supostas fronteiras entre as formas de conhecimento. “Essas fronteiras, como diria Pierre Bordieu, são puros produtos de reprodução acadêmica” (SILVA, MOREIRA, 1999, p. 54). A observação participante, além dos questionários, tem revelado o entusiasmo durante as atividades, o que demonstra ser possível facilitar a aprendizagem de Química por uma práxis transdisciplinar.

AGRADECIMENTOS: Aos aprendizes transdisciplinares que contribuíram com a pesquisa, ao CEFET-PI e servidores da UNED de Picos, que possibilitam essa práxis extracurricular.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: MARTINS, Isabel P. et al. Educação em Química e Ensino de Química: Perspectivas curriculares, Química e Ensino, Boletim da Sociedade Portuguesa de Química, n. 95, out-dez, 2004.
MINAYO, Cecília de S. (Org.). Pesquisa Social: teoria método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.
SILVA, T. T.; MOREIRA, A. F. (orgs.) Currículo, cultura e sociedade. Cortez; São Paulo, 1999.
SOMMERMAN, Américo. Inter ou Transdisciplinaridade? Da fragmentação disciplinar ao novo diálogo entre os saberes. São Paulo: Paulus, 2006.