ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: O ENSINO DA QUÍMICA PARA O ALUNO SURDO – UM ESTUDO DE CASO

AUTORES: SILVA (UECE) ; NUNES (UECE)

RESUMO: Conhecer acerca da inclusão dos alunos surdos é o foco deste trabalho. A pesquisa foi realizada em uma escola de Ensino Médio do Município de Fortaleza e com estudantes surdos, três intérpretes e três professores de Química. A pesquisa se deu em duas etapas: a observação do comportamento em sala de aula dos envolvidos; e a aplicação de questionários específicos para o aluno surdo, o professor e o intérprete. Durante as observações para o desenvolvimento deste trabalho foi percebido que os alunos incluídos ainda não o são. Isto é, várias vezes permanecem na sala de aula como “cadeiras”. O professor de Química não pode continuar passivo diante dessa situação. É questão de Ética proporcionar uma educação de qualidade para todos. Precisamos, nós professores de Química, parar para refletir sobre a prática docente e suas responsabilidades.



PALAVRAS CHAVES: aluno, surdo, química

INTRODUÇÃO: Este trabalho se propõe a levar aos profissionais da Química lotados nas escolas regulares o conhecimento acerca da inclusão do aluno surdo na sala de aula, fazendo com que este profissional se sinta preparado para trabalhar com todos os estudantes, surdos ou não. Por ser incapaz de ouvir, o aluno surdo não tem acesso direto ao que o professor fala, diferentemente dos ouvintes. Essa impossibilidade faz com que a Língua Portuguesa não seja a língua mãe deste aluno especial, e sim a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). O professor de Química, por sua vez, na maioria dos casos, não sabe a LIBRAS. Atualmente, na universidade não existe ou não é obrigatória a disciplina de educação especial para os cursos de Licenciatura em Química, limitando assim a capacidade deste profissional em interagir com as diferenças. A maior parte das disciplinas pedagógicas ministradas nos cursos de Licenciatura em Química abrange apenas conteúdos que ajudam o futuro profissional a trabalhar voltado para pessoas ditas “normais”. Em foco, pretende-se ajudar, esclarecer e motivar os professores de Química a procurarem alternativas de propiciar tanto aos seus alunos surdos quanto aos ouvintes a aprendizagem concreta de Química, equiparando a apreensão de ambos. Essas alternativas devem estar ligadas à acuidade visual do aluno surdo. É válido ressaltar que isso levará também a uma aprendizagem melhor para muitos alunos ouvintes que têm dificuldade de perceber o que está sendo dito pelo professor, muitas vezes por causa da abstração dos conceitos que são apresentados nas aulas de Química.












MATERIAL E MÉTODOS: A pesquisa foi realizada em uma escola de Ensino Médio do Município de Fortaleza. No total, há onze salas inclusivas nos três turnos: manhã, tarde e noite, das quais foram observadas três salas. O trabalho foi realizado com estudantes surdos, três intérpretes e três professores de Química, diversificando os turnos. A pesquisa se deu em duas etapas: a observação do comportamento em sala de aula dos envolvidos; e a aplicação de questionários específicos para o aluno surdo, o professor e o intérprete. O primeiro passo foi observar três aulas de Química ministradas por cada um dos professores, a atuação dos intérpretes e o comportamento dos alunos surdos. Posteriormente, foi feita uma apresentação geral sobre o trabalho, mostrando o objetivo proposto e esclarecendo como seria executada cada etapa do projeto. A primeira etapa foi de observação. Avaliou-se a postura dos professores A, B e C de Química e a sua metodologia aplicada na sala inclusiva: domínio do assunto abordado, domínio de sala, recursos utilizados para apresentação da aula e eficácia na sua utilização, conhecimento da Libras, exercícios de aprendizagem propostos e a adaptação destes para os alunos surdos. Na segunda etapa, conversou-se com os professores, os alunos e os intérpretes para esclarecer as dúvidas existentes e a opinião destes sobre o assunto aqui debatido. A aplicação dos questionários foi realizada em momentos distintos e individualmente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os três professores observados apresentaram um excelente domínio do conteúdo abordado. Somente com o professor C é que se pode perceber que os alunos surdos estavam sempre dispersos, conversando entre si e talvez por não produzirem sons, já que conversam em Língua de Sinais, não chamou a atenção do professor esse desvio de comportamento. Dos três, apenas um já havia trabalhado com a inclusão, porém, nenhum deles adaptou a metodologia da sua aula para atender as necessidades adicionais destes alunos. Ao serem questionados sobre a falha desta falta de melhoramento na metodologia, os professores responderam que não conhecem a cultura do surdo e que não foram preparados adequadamente para recebê-lo e que também não fazem idéia de como modificar sua aula a fim de melhorar o processo de ensino-aprendizagem desses alunos. A respeito da compreensão dos surdos em relação à disciplina de Química, um dos três intérpretes frisou que é quase impossível interpretar esta disciplina. Culpou a falta de sinais específicos para os termos utilizados. Outro reclamou da falta de recursos. O terceiro enfocou todo o processo do “faz de conta” e ainda afirmou que o resultado das provas era uma fraude, já que na maioria das vezes os alunos surdos “colavam” dos alunos ouvintes. Como ficou constatado nas entrevistas com os alunos surdos, existe uma carência no ensino da disciplina de Química. Ficou claro que esta disciplina é vista pelos alunos surdos como de difícil compreensão. Observou-se que esses alunos consideram e vêem a Química como essencial à vida.

CONCLUSÕES: A inclusão não se dá apenas aceitando o outro no ambiente físico em que estamos. Incluir o aluno surdo na escola regular significa acima de tudo, proporcionar condições para aprendizagens sólidas e significativas. Nosso grande objetivo é que na universidade se inicie uma atualização na definição acerca do professor de Química e sua responsabilidade ética e profissional ao lidar na área da educação. O professor de Química não pode continuar passivo diante do aluno surdo. Os professores de Química, precisam refletir sobre a prática docente e suas responsabilidades.



AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRITO, L. F. Integração social e educação de surdos. Rio de Janeiro: Babel, 1993.
FERREIRA, G. E. Reflexões sobre a atividade comunicativa do intérprete. Revista da Feneis, Rio de Janeiro, n. 10, ano III, p. 12, abr/jun, 2001.
MANTOAN, M. T. E. Depoimento na Revista Nova Escola, São Paulo, n. 182, ano XX, p. 24-26, mai, 2005.