ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Estudo da contaminação por mercúrio na zona rural do Município de Descoberto - MG.

AUTORES: TINÔCO, A.A.P. (UFV) ; AZEVEDO, I.D. (UFV) ; MARQUES, E.A.G. (UFV)

RESUMO: Dentre os metais pesados, o mercúrio merece destaque devido à sua elevada toxicidade e grande mobilidade nos ecossistemas. No meio aquático, esse elemento pode ser encontrado na água e nos sedimentos. Tendo em vista a constatação de contaminação por esse metal do solo, água e sedimentos em algumas áreas da zona rural do Município de Descoberto, MG, apresentam-se, nesse trabalho, resultados preliminares do estudo da contaminação por mercúrio em duas novas áreas. Em uma primeira campanha, foram coletadas amostras de água e sedimentos em alguns corpos d’água da região. Análises químicas permitiram comprovar a existência de elevados teores de mercúrio nas águas do Ribeirão do Grama e do Córrego Rico, bem como teores consideráveis em seus sedimentos.

PALAVRAS CHAVES: mercúrio, água, sedimentos

INTRODUÇÃO: Aspectos relacionados à contaminação por mercúrio têm despertado a atenção da comunidade científica nas últimas décadas,em função de seu elevado potencial tóxico e a importância do conhecimento de seu ciclo biogeoquímico, que envolve a distribuição, bioacumulação, biomagnificação, transformação e transporte desse elemento no ambiente.
Na superfície terrestre o mercúrio pode ser depositado no solo e em ambientes aquáticos, onde sofre transformações físico-químicas, chegando a formar compostos organometálicos, como o metilmercúrio, que podem ser absorvidos por organismos, atingindo, assim, o homem (AZEVEDO, 2003).
Em 2002 foi encontrado mercúrio metálico no Município de Descoberto, MG, cuja origem parece estar ligada à explotação de ouro que existiu na região no século XIX. Moradores da área rural perceberam a presença desse elemento quando foi realizado um corte em um terreno, para abertura de uma estrada, que provocou o afloramento do mercúrio em sua forma líquida (MARQUES et al., 2006). Desde então, estudos vêm sendo realizados na área do afloramento e nas suas proximidades com o intuito de dimensionar a contaminação ambiental no local.
Com base em investigações anteriores (ALEXANDRE, 2006), foram selecionadas duas áreas do Município, sendo uma no vale do Ribeirão do Grama e a outra no Córrego Rico, afluente do Ribeirão dos Mineiros. A primeira amostragem foi realizada em março (período chuvoso) e a próxima está prevista para agosto (período seco).
O objetivo principal deste trabalho é dimensionar a contaminação por mercúrio em sedimentos e águas superficiais, no Município de Descoberto, de maneira a fornecer subsídios para a proposição de algumas medidas de controle.


MATERIAL E MÉTODOS: Preservação das amostras: Os sedimentos foram coletados no leito dos rios, com uma espátula de teflon, a profundidades de 0 a 10cm, transferidos para sacos plásticos e mantidos resfriados, até chegada ao laboratório onde foram mantidos em freezer a 4ºC. As amostras de água foram coletadas com uma haste coletora, entre 15 a 30cm de profundidade, transferidas para frascos de polietileno de 500mL, previamente descontaminados com solução HNO3 a 10%, água deionizada e água do próprio local. Para preservação, as amostras de água foram acidificadas com HNO3 obtendo-se pH<2, aproximadamente, e mantidas sob resfriamento, até chegada ao laboratório onde foram mantidas em freezer a 4ºC. Determinação de Hg total: Sedimentos: Os procedimentos descritos a seguir basearam-se em MALM et al. (1989). Pesar 1g da amostra. Adicionar em banho de gelo 15 mL de uma mistura de H2SO4/HNO3 2:1. Colocar em banho maria a 60 ºC até suspensão clara (30 min). Adicionar em banho de gelo 15 mL de KMnO4 5% com leve agitação e deixar em repouso por 15 minutos. Adicionar 5 mL de K2S2O8 a 5%, colocar em banho maria por 2 horas a 95 °C. Esfriar, filtrar e adicionar 6 mL de NH2OH.HCL a 5% no momento da leitura no espectrofotômetro de absorção atômica com geração de hidretos. Água: Pipetar 50 ml da amostra. Colocar em banho de gelo e adicionar 10mL H2SO4 1:1. Adicionar 2mL de KMnO4 a 5%. Colocar em banho maria a 95ºC por 1 hora, adicionar 1mL de K2S2O8 em banho de gelo, após esfriar, filtrar. Adicionar 5 mL de NH2OH.HCL a 5% no momento da leitura e completar para 100 mL. Curva padrão: Partindo-se de uma solução de 1000 mg.L-1 prepara-se uma curva padrão (0;0,5;1;2,5;10;20;30µg.L-1). A curva é preparada em HCl 10%. No momento da leitura utilizar HCl 50% e NaBH4 0,3% e NaOH 0,5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados da análise de mercúrio total em água e sedimentos, bem como os parâmetros físico-químicos obtidos em campo e laboratório estão apresentados nas Tabelas 1 e 2.
Nas análises de mercúrio em água (Tabela 1) detectaram-se concentrações elevadas do metal nas amostras analisadas do Córrego Rico e Ribeirão do Grama. De acordo com a Portaria Nº. 518/2004 do Ministério da Saúde, o padrão de potabilidade fixado é de 1µg. L-1. Já na Resolução CONAMA N° 357/ 2005, o valor máximo permitido para corpos d’água Classe 2 é de 0,2 µg.L-1. Observou-se que praticamente todos os pontos analisados nesses afluentes apresentaram concentrações superiores aos valores mencionados. Adicionalmente, foram coletadas amostras de água de torneiras de estabelecimentos públicos do Município, nas quais não foi detectado teor de mercúrio.
Nos sedimentos, os valores estabelecidos pela Legislação Canadense e adotados pela Resolução CONAMA 344/2004, definem duas concentrações limites: 0,17mg.kg-1, a concentração abaixo da qual raramente são esperados efeitos adversos à biota e 0,486 mg.kg-1, acima da qual frequentemente esses efeitos são observados. Como as concentrações de mercúrio observadas variaram entre 0,130 a 0,381mg. kg-1 (Tabela 2), conclui-se que a maioria das amostras apresentou concentração na faixa definida pelos dois limites, no intervalo em que, ocasionalmente, esperam-se efeitos adversos.
Dentre os parâmetros físico-químicos determinados para água e sedimentos, a condutividade elétrica nas amostras provenientes das torneiras da padaria e do restaurante mostrou-se elevada. A possível causa para esses valores elevados será investigada em uma próxima campanha de coleta de amostras.






CONCLUSÕES: Com base nos resultados preliminares apresentados, conclui-se ser fundamental a continuidade da pesquisa nas áreas estudadas, no intuito principal de monitorar os corpos d’água e dimensionar a contaminação, além de se tentar identificar a origem da fonte contaminante de mercúrio, de maneira a fornecer subsídios para a proposição de algumas medidas de controle e prevenir a exposição de animais e pessoas a concentrações perigosas desse elemento.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALEXANDRE, S. C. 2006. Caracterização de Área Contaminada por Mercúrio em Descoberto – Minas Gerais. Dissertação de mestrado.Viçosa: UFV.

AZEVEDO, F. A. 2003. Toxicologia do mercúrio. RIMA São Paulo, 292 p.

BRASIL, Ministério da Saúde, Portaria Nº. 518, DE 25 de março de 2004. Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativas ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências.

BRASIL, Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução Nº. 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2007.

BRASIL, Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução No. 344, de 25 de março de 2004. Estabelece as diretrizes gerais e os procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado em águas jurisdicionais brasileiras, e dá outras providências.Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res04/res34404.xml. Acesso em: 10 jun. 2007.

MALM, O.; PFEIFFER, W. C.; BASTOS, W. R.; SOUSA, C. M. M. 1989. Utilização do acessório de geração de vapor frio para a análise de mercúrio em investigações ambientais por espectrofotometria de absorção atômica. Revista Ciência e Cultura, n. 41, V. 1, p. 88-92.

MARQUES, E. A. G. ; ALEXANDRE, S. C. ; MIRANDA, J. F. ; FINEZA, A.; TEIXEIRA,C.M.; OLIVEIRA, A.A.G. 2006. Caracterização de Área Contaminada por Mercúrio no Município de Descoberto – Minas Gerais. COBRAMSEG, p.2.