ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: A TERMOGRAVIMETRIA NA IDENTIFICAÇÃO FORENSE: ANÁLISE DE PÊLOS

AUTORES: DE FARIAS, R.F. (UFRR)

RESUMO: Avalia-se a potencialidade do uso da termogravimetria na identificação forense, mediante a análise de pêlos. Após análise de amostras de pêlos humanos (10 pessoas diferentes)e de animais, num total de 17 amostras, verifica-se que:
(1) Não é possível diferenciar-se um pêlo humano de um pêlo animal;
(2) É possível diferenciar-se pêlos de diferentes partes do corpo (cabeça e púbis), considerando-se uma mesma pessoa, no caso do sexo feminino, mas não para o sexo masculino;
(3) É possível diferenciar-se pêlos oriundos de pessoas de sexos diferentes, no caso de fios de cabelo: via de regra, os cabelos masculinos exibem percentual de perda de massa na casa dos 69 %, com os cabelos femininos exibindo perdas de massa da ordem de 64 %.

PALAVRAS CHAVES: forense; termogravimetria; pêlos

INTRODUÇÃO: Estudos recentes têm demonstrado que fatores tais como hábitos de vida e o meio ambiente ao qual o indivíduo está exposto, idade, sexo e cor do cabelo, bem como as condições de saúde do indivíduo podem exercer influências significativas sobre a composição química dos pêlos [1-4].
Por outro lado, já foi demonstrado que a termogravimetria pode ser utilizada para a determinação, em nível molecular, de espécies heterogêneas, como no caso da determinação do número de grupos OH na superfície de sílica-gel [5].
Assim sendo, uma investigação que vise avaliar a potencialidade do uso da termogravimetria para análise forense, especificamente no tocante à análise de pêlos, é digna de ser realizada.
O presente trabalho dedica-se, justamente, à tal investigação, tendo por objetivo avaliar a potencialidade de uso da termogravimetria para análise forense, especificamente no tocante à análise de pelos, a fim de determinar se, mediante o uso dessa técnica, pode-se:
(a) Diferenciar um pelo humano de pelos de outras espécies animais;
(b) Diferenciar pelos oriundos de indivíduos humanos com diferentes idades e de sexos diferentes;
(c) Diferenciar pelos oriundos de indivíduos humanos diferentes;
(d) Diferenciar entre pelos de diferentes partes do corpo, de um mesmo indivíduo.


MATERIAL E MÉTODOS: Foram analisadas, ao todo, 17 amostras de pêlos, sendo 2 pêlos de animais (gato e cão). Os pêlos humanos foram coletados em 10 pessoas diferentes, num total de 15 amostras. Maiores detalhes sobre as amostras analisadas são apresentados na Tabela 1.
As curvas termogravimétricas foram obtidas em equipamento Shimadzu TGA-50, em porta amostras de platina, sob atmosfera de nitrogênio (50 cm3 min-1) e com taxa de aquecimento de 10 °C min-1. As curvas foram obtidas na faixa de temperatura de t ambiente a 800 °C.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados obtidos encontram-se resumidos na Tabela 2. Em todos os casos, a primeira etapa de perda de massa situa-se na faixa de 30 °C a 150 °C. Pode-se associar essa etapa à perda de moléculas de água fisisorvida e, possivelmente, matéria sebácea presente nos pêlos, de forma que, o que verifica-se, não é ainda a degradação do pêlo. Como a quantidade de água fisisorvida e matéria sebácea irá depender de fatores até certo ponto aleatórios, tais como o fato do indivíduo estar a muito ou pouco tempo sem lavar a região do corpo onde o pêlo se encontra, o fato do indivíduo transpirar muito ou pouco, em comparação com outros, essa primeira etapa de perda de massa carece, em princípio, de maior significado, não podendo-se associá-la, efetivamente, a um determinado indivíduo. A segunda perda de massa, a qual inicia-se em 250 °C, acontece, para todas as amostras analisadas, em duas etapas, sendo que, na maior parte dos casos, a segunda etapa apresenta-se pouco definida, motivo pelo qual, na Tabela 2, o percentual de perda de massa é simplesmente calculado na faixa de 250-800 °C, como uma única etapa. Esta etapa encontra-se associada à degradação térmica das queratinas [6].Uma notável exceção é a amostra 7, a qual exibe, na faixa entre 250-800 °C, duas etapas de perda de massa bem definidas. Comparando-se o par de amostras 1 e 2, oriundos de uma mesma mulher, com o par 7 e 8, de outra mulher, e o par 10 e 11, de uma terceira mulher, verifica-se que os pêlos púbicos deixam menor resíduo (exibem maior perda de massa, portanto) do que os cabelos: percentuais de perda de massa 64,5%, 67,1 % e 67,8 % para as amostras 1, 8 e 11, respectivamente (pêlos púbicos) e percentuais de 57,3%, 63,7 % e 64,6 %, respectivamente, para as amostras 2, 7 e 10 (cabelos).





CONCLUSÕES: (1) Não é possível diferenciar-se um pêlo humano de um pêlo animal;
(2) É possível diferenciar-se pêlos de diferentes partes do corpo (cabeça e púbis), considerando-se uma mesma pessoa, no caso do sexo feminino, mas não para o sexo masculino;
(3) É possível diferenciar-se pêlos oriundos de pessoas de sexos diferentes, no caso de fios de cabelo: via de regra, os cabelos masculinos exibem percentual de perda de massa na casa dos 69 %, com os cabelos femininos exibindo perdas de massa da ordem de 64 %.
(4) Não é possível diferenciar-se entre pêlos de pessoas de idades diferentes;


AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: [1] K. Chojnacka, H. Górecka, H. Górecki, Sci. Total Environ., 366 (2006) 612.
[2] Y. Masukawa, H. Tsujimura, H. Narita, J. Lipid Res., 47 (2006) 1559.
[3] K. Chojnacka, H. Górecka, H. Górecki, Environ. Tox. Pharm., 22 (2006) 52.
[4] T.G. Kazi, et. al., Clin. Chim. Acta, 369 (2006) 52.
[5] R.F. de Farias, C. Airoldi, J. Thermal Anal. Cal., 53 (1998) 751.
[6] G.R.P. Moore, S.M. martelli, C.A. Gandolfo, A.T.N. Pires, J.B. Laurindo, Ciênc. Tecnol. Aliment., 26 (2006) 421.