ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: ESTUDO QUÍMICO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS LETREIRO DOS TANQUES I E II, PIAUÍ - BRASIL

AUTORES: FARIAS FILHO, B. B. (UFPI) ; SANTOS, L. M. (UFPI) ; FONTES, L. M. (UFPI) ; CAVALCANTE, L. C. D. (UFPI) ; LAGE, M. C. S. M. (UFPI) ; FABRIS, J. D. (UFMG)

RESUMO: O estudo químico dos sítios arqueológicos Letreiros dos Tanques I e II foi feito mediante o uso das técnicas Espectroscopia UV-visível, difração de raios X, espectroscopia de energia dispersiva, microscopia eletrônica de varredura, além de exame sob lupa binocular, reação de complexação com tiocianato e testes de solubilidade. Os resultados revelaram que as pinturas foram realizadas com pigmentos à base de ferro, provavelmente com o uso do ocre. O depósito mineral coletado apresenta como principais constituintes o Ca, P, O, Si e Mg, e, em menor concentração, os elementos K, S e C.

PALAVRAS CHAVES: arqueoquímica; arte rupestre; pigmentos minerais.

INTRODUÇÃO: O Piauí possui uma diversidade de sítios arqueológicos espalhados por todo o estado, de modo que esse acervo arqueológico tem incitado pesquisadores das mais variadas áreas na tentativa de compreender a pré-história brasileira e, por conseqüência, a americana, bem como a evolução que culminou com o estágio tecnológico atual. O estudo urgente deste acervo se faz necessário, pois eventos naturais e ações antrópicas estão provocando o desaparecimento de muitos dos sítios que possuem fragmentos da história do homem americano.
O município de Juazeiro do Piauí possui, dentre outros, os sítios arqueológicos Letreiro dos Tanques I e II. O Sítio Letreiro dos Tanques I, localizado às margens do Riacho dos Tanques, é um abrigo sob rocha arenítica com pinturas de grafismos puros, realizados em diferentes tonalidades de vermelho e alaranjado. Além disso, também existem gravuras realizadas pela técnica de picoteamento (SEINFRA, 2006).
O Sítio Letreiro dos Tanques II é um abrigo sob rocha com pinturas rupestres miniaturizadas na cor vermelho claro e possui grande quantidade de carimbos de mãos. Há também superposição de gravuras realizadas por picoteamento (SEINFRA, 2006).
Os dois sítios, apesar do difícil acesso, encontram-se em avançado estado de degradação, possuindo diversos produtos de alteração, tais como ninhos de vespas, cupim e depósitos minerais, alguns deles sobrepondo os registros rupestres.
O nosso objetivo aqui é apresentar alguns resultados das análises químicas que foram realizadas utilizando as técnicas de espectroscopia UV-visível, DRX, EDS, MEV, além de exame sob lupa binocular, reação de complexação com tiocianato e testes de solubilidade.


MATERIAL E MÉTODOS: Amostras tanto das pinturas quanto dos produtos de alteração foram coletas para análises no Departamento de Química da UFPI e na UFMG.
Para identificar as fases cristalinas presentes, o depósito mineral foi raspado do suporte rochoso e analisado por difração de raios X (DRX), método do pó, utilizando um difratômetro Rigaku, modelo Geigerflex, com tubo de cobalto (Co Ka), tensão de 32,5 kV e corrente de 25,0 mA. A varredura foi feita no intervalo de 4 a 80° (2 teta) e a velocidade de varredura foi de 4° (2 teta)/min.
Ainda para a amostra de depósito mineral foram obtidas algumas imagens por microscopia eletrônica de varredura (MEV), em equipamento JEOL, modelo JSM-840A, operando com tensão de 15 kV e corrente de 60 pA. Previamente as amostras foram metalizadas com ouro. Empregou-se também a técnica de espectroscopia de energia dispersiva (EDS) para fazer análises pontuais na amostra além da obtenção de mapas químicos dos elementos de interesse. Foi utilizado o equipamento JEOL, modelo JXA-8900RL, com energia de 15,0 keV, potencial de aceleração de 15,0 kV e corrente de feixe de 12 nA. Previamente as amostras foram metalizadas com carbono.
A análise química qualitativa consistiu de ataque ácido com HCl 3 mol L-1 ao pigmento e posterior acréscimo do agente complexante, NH4SCN 1 mol L-1 (BACCAN, et al., 1990). O produto colorido da reação foi analisado por espectroscopia de absorção molecular UV-visível, utilizando-se um espectrofotômetro Hitachi de feixe duplo no tempo, modelo U-3000, com cubetas de quartzo de 1 cm de caminho óptico como recipientes para leitura das amostras.
Os testes de solubilidade foram feitos com os solventes água destilada, HCl 3 mol L-1, acetona, CCl4, álcool etílico, HNO3 1 mol L-1, H2SO4 1 mol L-1 e NaOH 0,1 mol L-1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O produto colorido da reação de complexação com tiocianato, foi avaliado por espectroscopia UV-visível (Figura 1) e os resultados estão de acordo com os dados disponíveis na literatura para o complexo ferro-tiocianato, confirmando a presença deste elemento como constituinte dos pigmentos utilizados nos sítios estudados (SKOOG et al., 2006).
O espectro EDS (Figura 2) aponta como principais constituintes do depósito mineral os elementos Ca, P, O, Si e Mg, e, em menor concentração, os elementos K, S e C. Os mapas químicos também obtidos com uso de espectroscopia de energia dispersiva revelam que os elementos P, Mg e O estão associados, sugerindo tratar-se de uma mistura de sais, sendo que um deles, o CaCO4!H2O, foi identificado através de difração de raios X. Também verificou-se grande presença de material amorfo, de modo que o background elevado escondeu os reflexos cristalográficos que permitiriam identificar todos os constituintes do depósito mineral.
Não foi verificado a solubilidade da eflorescência salina em nenhum dos solventes testados.






CONCLUSÕES: Os resultados deste estudo apontam que os pigmentos utilizados para pintar estes sítios arqueológicos possuem ferro em sua constituição, sugerindo o uso do ocre, um pigmento mineral natural bastante utilizado pelos pré-históricos desta região. Os resultados das análises do depósito mineral sugerem que se trata de uma mistura de sais de baixa solubilidade nos solventes testados.

AGRADECIMENTOS: Ao CNPq pelas bolsas, de IC (L. Santos e B. Farias Filho), de Mestrado (L. Cavalcante) e de Produtividade em Pesquisa (M. Lage e J. Fabris). À UFPI e UFMG.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BACCAN, N.; ALEIXO, L. M.; STEIN, E.; GODINHO, O. E. S.; Introdução à semimicroanálise qualitativa, 3ª ed., Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.
GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ, SECRETARIA DE INFRA-ESTRUTUA DO ESTADO DO PIAUÍ – SEINFRA, Barragem Castelo: levantamento do patrimônio arqueológico, nov. de 2006. (relatório técnico, 34 p.).
SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R.; Fundamentos de Química analítica, São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.