ÁREA: Iniciação Científica
TÍTULO: SÍNTESE E AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DE DERIVADOS NITROGENADOS DO CARDANOL FRENTE A Artemia salina
AUTORES: CASTRO, R.A.O. (UECE) ; LEITE.J.J.G. (UFC) ; BEZERRA, D.P. (UECE) ; DANTAS, J.D.P. (UECE) ; CARIOCA, F.O.B. (PADETEC) ; ALVES, C.R. (UECE) ; MORAIS, S.M. (UECE)
RESUMO: Neste trabalho descrevemos síntese e avaliação da toxicidade de análogos nitrogenados do cardanol frente ao microcrustáceo Artemia salina. As sínteses foram realizadas de acordo com mecanismos clássicos da literatura e os produtos purificados, por cromatografia em coluna com sílica gel, foram analisados por cromatografia em camada delgada, tendo suas estruturas químicas elucidadas por espectroscopia de RMN do próton H1. A toxicidade dos compostos sintetizados foi avaliado pelo método da A. salina, calculando a concentração letal média, CL50.As CL50 dos compostos nitrado e aminado foram de 11,4 e 0,31 mg/L respectivamente. Assim estes compostos merecem um estudo mais aprofundado, visando os usos como agentes no controle de vetores patógenos.
PALAVRAS CHAVES: artemia salina, cardanol e nitrogenado
INTRODUÇÃO: O cajueiro (Anacardium occidentale L.) é uma planta tropical, encontrado em todo o Brasil. A Região Nordeste responde por mais de 95 % da produção nacional, porém o agronegócio do caju está centrado apenas na castanha in natura. O Brasil é o terceiro produtor mundial de castanha de caju, com 200.000 toneladas por ano. No processo de beneficiamento da castanha gera-se o líquido da castanha de caju, o LCC, que é um abundante subproduto. A química verde propõe a busca de forma responsável por fontes renováveis, para servir de matéria-prima industrial. Há diversas pesquisas para o desenvolvimento da tecnologia química para o aproveitamento industrial do LCC visando agregar valor, que é de grande interesse para o setor da indústria regional.
A Artemia salina é amplamente conhecida como indicador de toxicidade em bioensaio (Brine Shrimp Test) (MEYER, 1982), utilizando-se a Concentração Letal Média, CL50, como parâmetro de avaliação da atividade biológica.
Neste trabalho descrevemos a síntese e avaliação da toxicidade de análogos do cardanol saturado, que foram obtidos através de reações de hidrogenação, alquilação e nitração seguida de redução aminativa, frente ao microcrustáceo Artemia salina.
MATERIAL E MÉTODOS: A Artemia salina foi cultivada em água do mar. Para eclosão dos cistos foi utilizada uma caixa contendo divisória, de maneira que apenas um dos lados ficasse iluminado para permitir, por fototropismo, a migração das larvas. Dez náuplios de A. salina foram transferidos para cada um dos 3 frascos contendo o meio e a substância a ser testada em concentrações diferentes. Os frascos foram mantidos sob iluminação e a contagem das larvas mortas foi realizada após 24h (VINATEA, 1994).
Para a síntese, inicialmente, foi feita uma hidrogenação catalítica do cardanol destilado do LCC técnico, utilizando Pd/C em etanol 60 psi de pressão, resultando um composto saturado com rendimento de 98 %. O cardanol saturado foi então alquilado com ZnCl2 e (CH3)3CCl em balão de fundo redondo sob refluxo à 51-53 ºC sob agitação constante, em seguida o produto foi lavado com água destilada e neutralizado com solução de NaHCO3. Para a nitração do cardanol alquilado, seguiu-se o procedimento: dissolveu-se uma massa de cardanol em H3CCl num balão de fundo redondo, em sistema montado dentro de um banho de resfriamento à 5 ºC, com gotejamento lento de HNO3 concentrado, mantendo agitação branda por 7 horas. O produto nitrado foi neutralizado com solução de NaHCO3 1Mol/L lavado com solução de NaCl 20 %. O cardanol alquilado-nitrado foi pesado com Sn granulado num balão, em seguida foram adicionadas ao meio reacional pequenas porções de HCl concentrado sob agitação. A mistura reacional foi mantida sob refluxo por cerca de 1 hora a 50 ºC, e finalmente resfriada com adição de água destilada, seguida por adição cuidadosa de solução de NaOH concentrado. A mistura foi extraída com éter etílico, e seca com sulfato de sódio anidro e o derivado aminado foi recolhido, por evaporação cuidadosa do éter.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Tabela 1 indica os valores de CL50 obtidos.
Comparando-se os valores de CL50, podemos observar que o composto aminado, seguido pelo cardanol, apresentou a maior toxicidade. O bioensaio controle, indicou que as larvas não foram afetadas pelo solvente empregado. Isso ocorreu possivelmente pela densidade eletrônica no anel aromático, já que o grupo NO2 é retirador de elétron e o grupo NH2 é doador.
Há relatos na literatura científica que existe uma correlação entre a toxicidade frente à Artemia salina Leach e potenciais atividades biológicas (MACLAUGHLIN, 1991). Estudos experimentais mostram que para uma determinada droga, o valor de sua dose efetiva (DE50) obtida para a citotoxicidade frente às linhagens celulares de tumores sólidos, por exemplo, é dez vezes menor que sua CL50 referente à toxicidade geral frente à Artemia salina Leach. Os resultados obtidos mostraram-se interessantes, em função de seus valores de CL50, que permitem a previsão de apresentarem potencial atividade citotóxica.
CONCLUSÕES: Os métodos utilizados para os processos de síntese dos derivados nitrogenados do cardanol podem ser considerados satisfatórios com base no monitoramento cromatográfico para os respectivos produtos de síntese.
O bioensaio utilizando Artemia salina L., como parâmetro para avaliação da toxicidade geral, apresentau-se simples e eficiente, indicando resultados interessantes para os compostos analisados. As propriedades biológicas desses compostos devem ser compreendidas e seus efeitos tóxicos correspondentes determinados, a fim de se evitar a utilização indiscriminada destas substâncias.
AGRADECIMENTOS: Ao CNPQ pela bolsa de iniciação cientifica, a FUNCAP, ao padetec e ao laboratório de produtos naturais (UECE)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: MACLAUGHLIN, J.L. 1991. Hostettmann, K. Methods in Plant Biochemistry. Academic Press; London, vol. 6, p.1.
MEYER, B.N., et al. 1982. Brine shrimp: A convenient general bioassay for active plant constituints. Planta Médica, 45: 35-34.
VINATEA, J.E. 1994. Artemia um ser vivo excepcional. Panorama da Aqüicultura, 4: 8-9.