ÁREA: Iniciação Científica
TÍTULO: VARIAÇÃO SAZONAL DE FENÓIS E NUTRIENTES EM FOLHAS DE Eucalyptus microcorys
AUTORES: SOUZA,L.S. (UFG) ; SANTOS,S.C. (UFG) ; FERRI,P.H. (UFG)
RESUMO: Eucalyptus microcorys é rico em 1,8-cineol e taninos hidrolisáveis. Para estudar a sazonalidade dos taninos, folhas foram coletadas mensalmente de out/03 a set/04, na FLONA-Silvânia/GO e analisadas para: fenóis totais (FeCl3), taninos hidrolisáveis (KIO3) e flavonóides (AlCl3) e nutrientes foliares (N, P, K, S, Mg, Ca, Cu, Zn, Mn and Fe). Análise Componentes Principais e Análise de Cluster (Programa SPAD.N) demonstraram a existência de dois grupos. O primeiro (out-abr) com altos níveis de Mn (1007 mg/Kg) e Mg (0,2 Dag/Kg), ocorreu no período das chuvas. O segundo ocorreu na seca (mai-set) e possui altos teores de flavonóides e taninos (10,5 e 346,7 mg/g). A análise estatística mostrou que existe correlação negativa entre os metais Mg e Mn e os flavonoides e taninos.
PALAVRAS CHAVES: eucalyptus microcorys, taninos hidrolisáveis, sazonalidade
INTRODUÇÃO: A espécie Eucalyptus microcorys F. Muell, conhecida como Tallowwood, ocorre em locais de clima quente e úmido da Austrália [MOORE et al.,2004]. Devido às semelhanças de clima, esta espécie foi trazida para o centro-oeste do Brasil, por fornecer madeira de boa qualidade, que pode ser usada para confecção de móveis e na construção civil. Além do uso madeireiro, esta espécie também apresenta grande potencial medicinal, pois seu óleo essencial é rico em 1,8-cineol (86,7%) [ESTANISLAU et al.,2001], substância com atividade expectorante e antisséptica das vias respiratórias.Alguns colaboradores[Moore et al.,2004] detectaram a presença de taninos hidrolisáveis nas folhas de E. microcorys, e observaram inclusive que esta classe de compostos representa aproximadamente 90% dos metabólitos secundários desta planta, ficando o óleo essencial com apenas 2%.Taninos hidrolisáveis já foram isolados no gênero Eucalyptus [SANTOS e WATERMAN, 2001]. Essas substâncias contribuem para a defesa das plantas contra o ataque de herbívoros e limita o crescimento de microorganismos patogênicos (SCALBERT,1991). Taninos hidrolisáveis também possuem atividade contra tumores [NOMURA et al.,2005].Os taninos como outros metabólitos secundários variam em sua concentração nas diferentes estações do ano, o que depende da época de floração e frutificação e de fatores climáticos, como pluviosidade, luminosidade e umidade relativa do ar [SANTOS et al.,2006; SALMINEN et al.,2004].Com isso é necessário um acompanha¬mento da variação dos teores de taninos para se conhecer a dinâmica de cada espécie e sua adaptação para as diferentes condições climáticas. Este trabalho teve como objetivo correlacionar através de métodos quimiométricos a variação nos teores de taninos com os nutrientes foliares.
MATERIAL E MÉTODOS: Folhas de E. microcorys foram coletadas mensalmente na Floresta Nacional do IBAMA (FLONA-Silvânia/GO), no período de outubro de 2003 a setembro de 2004.Extratos feitos com metanol:água foram analisados através de três ensaios colorimétricos: fenóis totais (FeCl3) (MOLE e WATERMAN,1987), taninos hidrolisáveis (KIO3) (WILLIS e ALLEN, 1998) e flavonóides-F (AlCl3) (PETRY et al., 1998).Nutrientes foliares (N, P, K, S, Mg, Ca, Cu, Zn, Mn and Fe) foram determinados por espectroscopia de absorção atômica e fotometria de chama (MALAVOLTA, VITTI & OLIVEIRA, 1989). Os resultados dos ensaios colorimétricos e a análise foliar junto com os dados climáticos foram analisados por métodos quimiométricos.O programa estatístico utilizado foi o Système Portable d`Analyse des Données Numériques/SPAD.N, versão 2.5 (LEBART et al., 1994). A Análise de Componentes Principais (PCA) foi utilizada para estabelecer interrelação entre os compostos químicos, metais e dados climáticos do período das coletas das amostras. A Análise de Clusters foi utilizada para estudar as similaridades das amostras nas bases da distribuição dos constituintes. A técnica do vizinho mais próximo pelo algoritmo de Benzécri (BENZÉCRI, 1980) foi aplicada para verificar esta similaridade e os agrupamentos hierárquicos foram formados de acordo com o Método de Variância Mínima de Ward (WARD, 1963).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A maioria dos dados, na análise componentes principais(PCA), pôde ser representada nos três primeiros eixos, que contiveram 78.53% da variância total(x = 44,44, y = 22,39 and z = 11,69 %)Figura 1. PCA e análise de cluster demonstraram a existência de dois grupos. O primeiro grupo (out/03-abr/04), foi caracterizado por conter altos níveis de manganês (1007,6 mg/Kg)e magnésio (0,2 Dag/Kg) e é representado por amostras do período de maior precipitação (194,9 mm). Amostras do segundo grupo (mai/04-set/04) possuem os níveis mais altos de flavonóides e taninos hidrolisáveis (10,5 e 346,7 mg/g,respectivamente)além do nutriente enxofre (0,03 Dag/Kg). Este grupo é formado por amostras dos meses de seca (4,6 mm). Os metais manganês e zinco apresentam forte correlação negativa com flavonóides, fenóis totais e taninos hidrolisáveis. Este comportamento pode ser devido à participação destes metais em enzimas envolvidas com a biossíntese de ligninas (MARSCHNER, 1997; VAN DE MORTEL et al., 2006) e também com a síntese de proteínas no caso do zinco (TAIZ & ZEIGER, 1998). Tanto a síntese de ligninas quanto a produção de proteínas competem com a síntese de flavonóides e taninos. No caso do magnésio, que também apresenta forte correlação negativa, foi demonstrado que este metal tem papel importante na biossíntese de terpenóides (ROCCA-PEREZ et al., 2005). Portanto, nos meses de chuva onde ocorre aumento deste nutriente nas folhas, a síntese de fenóis é diminuída, provavelmente, pela maior produção de compostos terpenicos. Os dois grupos foram separados também por fatores climáticos, observa-se que ocorre um aumento nos teores dos fenóis nos meses de baixa pluviosidade, o que é o oposto do observado em trabalhos anteriores (SCOGINGS et al., 2004; GLYPHIS e PUTTICK, 1988).
CONCLUSÕES: A síntese de taninos hidrolisáveis e flavonóides apresenta forte relação com fatores climáticos, tais como a pluviosidade, sendo no período de seca onde ocorrem os maiores teores destes metabólitos. Este fato pode ser devido ao stress hídrico e/ou a diminuição dos nutrientes foliares, principalmente magnésio, manganês e zinco, sugerindo uma competição entre a biosíntese destes fenóis e a de ligninas, proteínas e terpenos
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BENZÉCRI, J. P. 1980. L´Analyse des données: la taxinomie, Tome 1. Paris: Dunod
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GLYPHIS, J.P.; PUTTICK, G.M. 1988. Phenolics in some southern african mediterranean shrubland plants. Phytochemistry, 27: 743-751
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