ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: Caracterização do bagaço de cana-de-açúcar in natura, extraído com etanol ou ciclohexano/etanol

AUTORES: CANILHA, L. (IPT) ; CARVALHO, W. (EEL-USP) ; ROCHA, G.J.M. (EEL-USP) ; ALMEIDA E SILVA, J.B. (EEL-USP) ; GIULIETTI, M. (IPT)

RESUMO: Avaliou-se a extração do bagaço de cana com etanol 95% ou com ciclohexano/etanol (2:1), objetivando minimizar os teores de inibidores gerados durante hidrólise ácida da hemicelulose. A composição percentual deste resíduo foi determinada antes e após as extrações. Através dos teores de lignina solúvel e insolúvel, cinzas, carboidratos, furfural e hidroximetilfurfural obtidos, estimou-se os teores de celulose (46,86 ± 0,22, 46,08 ± 0,08 e 45,41 ± 0,31), hemicelulose (27,50 ± 0,14, 27,11 ± 0,15 e 26,17 ± 0,08), lignina (26,27 ± 0,71, 23,19 ± 0,36 e 21,49 ± 0,24), cinzas (1,61 ± 0,02, 1,55 ± 0,02 e 1,51 ± 0,02) e extrativos (4,10 ± 0,07 e 6,13 ± 0,04). Também foi verificado que a composição mássica determinada foi similar àquelas descritas na literatura.

PALAVRAS CHAVES: bagaço de cana-de-açúcar, extração, composição

INTRODUÇÃO: O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo (UNICA, 2006). Cada tonelada de cana-de-açúcar processada gera em torno de 140 Kg de bagaço (CENBIO, 2003). Entre 60 e 90% deste material é utilizado pela própria indústria sucro-alcooleira como combustível para geração de energia e calor (FAPESP, 1998). Entretanto, existe ainda um excedente que gera problemas ambientais e de estocagem (SUN et al., 2004). Diversos trabalhos têm buscado alternativas para a utilização deste subproduto, citando-se como exemplos o preparo de rações animais, a fabricação de papel e celulose, e a produção de insumos com maior valor agregado por meio de processos fermentativos.
O bagaço de cana é constituído por três frações principais (celulose, hemicelulose e lignina), as quais, juntas, perfazem mais de 90% da massa total (PANDEY et al., 2000). A xilose é o principal carboidrato encontrado na fração hemicelulósica, representando cerca de 80% dos açúcares totais (AGUILAR et al., 2002; MOSIER et al., 2005). Em geral, o teor de cinzas encontrado no bagaço é pequeno (PANDEY et al., 2000). Por outro lado, os extrativos, como graxas, gomas, amidos, alcalóides, resinas e óleos essenciais, podem representar acima de 5% da massa total. Os extrativos são constituídos por uma grande variedade de compostos orgânicos e podem ser extraídos com solventes orgânicos ou aquosos (FENGEL e WEGENER, 1989; CUNHA, 1999).
Considerando que o uso de bagaço de cana in natura para o preparo de hidrolisados hemicelulósicos pode resultar em um hidrolisado com maior teor de compostos inibitórios à atividade microbiana, buscou-se avaliar a composição desta matéria prima antes e após a extração com dois sistemas solventes distintos.


MATERIAL E MÉTODOS: O efeito da extração com etanol 95% (NREL, 2004) ou com ciclohexano/etanol (2:1 v/v) (ARAÚJO, 2000) sobre a composição do bagaço foi avaliado. As extrações foram realizadas em aparelho Soxhlet, até o solvente tornar-se incolor, mantendo-se o bagaço moído em contato com o solvente extrator. O bagaço extraído com ciclohexano/etanol foi então lavado com água, em Soxhlet, para a retirada de resíduos do solvente. Os bagaços extraídos foram secos ao ar para evaporação dos solventes e transferidos para pesa-filtros tarados, para secagem em estufa a 105 °C até massa constante.
O bagaço de cana in natura e os bagaços extraídos com etanol e com ciclohexano/etanol foram caracterizados quanto à composição percentual. Para tal análise, 2 g de bagaço foram transferidas para um béquer com 15 mL de ácido sulfúrico 72% (p/p). A mistura foi agitada continuamente em banho termostático a 45 °C/7 min. A reação foi interrompida com 275 mL de água destilada e o conteúdo transferido para um Erlenmeyer para ser autoclavado a 121 ºC/30 min. Após resfriar, a suspensão foi transferida para um balão de 500 mL. O volume foi completado com água destilada, homogeneizado e filtrado. O resíduo sólido (lignina insolúvel + cinzas), após várias lavagens, foi seco em estufa a 105 °C até massa constante. Através da diferença entre a massa do resíduo e a massa das cinzas, determinou-se a percentagem de lignina insolúvel. Para determinação das cinzas, 1 g de bagaço foi aquecida em mufla elétrica 800 °C/4 h. Após resfriamento, o material calcinado foi pesado (SILVA e QUEIROZ, 2005). A fração líquida foi analisada por HPLC (CANILHA, 2006) para determinação de glicose, xilose, arabinose, furfural e hidroximetilfurfural, para o cálculo da percentagem de celulose, hemicelulose e lignina solúvel (ROCHA, 2000).


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os componentes do bagaço de cana-de-açúcar in natura e extraído com etanol ou ciclohexano/etanol são apresentados na Tabela 1. A Tabela 2 apresenta a composição mássica (%) das principais frações do bagaço de cana-de-açúcar in natura e extraído com etanol ou ciclohexano/etanol.
De acordo com os resultados apresentados nas Tabelas 1 e 2, verifica-se que os componentes do bagaço de cana e as composições mássicas encontradas tanto para o bagaço in natura quanto para os bagaços extraídos foram bastante semelhantes. Os valores de composição mássica também são semelhantes àqueles descritos na literatura (CUNHA, 1999; PANDEY et al., 2000; AGUILAR et al., 2002; COSTA, 2005).
Com relação aos extrativos, os teores destes compostos variaram entre 4,10 e 6,13%, dependendo do solvente utilizado para a extração. Considerando que: 1) o ciclohexano é um líquido que apresenta odor muito forte e pode causar irritações na pele, dermatites, náuseas e dores de cabeça (FAENQUIL, 2003), e 2) que os teores de compostos extraíveis com ciclohexano/etanol não foram muito diferentes daqueles encontrados durante a extração com etanol; recomenda-se que, caso seja necessário, o bagaço seja extraído com etanol. Experimentos adicionais visando comparar a composição química dos hidrolisados hemicelulósicos preparados a partir de bagaço in natura ou extraído com etanol, bem como avaliar a fermentabilidade de cada um destes hidrolisados, estão em andamento em nossos laboratórios.






CONCLUSÕES: A composição mássica do bagaço de cana-de-açúcar encontrada no presente trabalho foi semelhante àquelas descritas na literatura. O teor de compostos extraíveis com ciclohexano/etanol foi similar ao teor de compostos extraíveis com etanol.

AGRADECIMENTOS: Fapesp e CNPq.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AGUILAR, R.; RAMÍREZ, J.A.; GARROTE, G.; VÁSQUEZ, M. 2002. Kinetic study of the acid hydrolysis of sugarcane bagasse. Journal of Food Engineering, 55: 304-318.
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CANILHA, L. 2006. Produção de xilitol no hidrolisado hemicelulósico de palha de trigo. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de Lorena, Lorena, Brasil.
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CUNHA, H.C.M. 1999. Caracterização do bagaço de cana pré-tratado por explosão a vapor: identificação de inibidores potenciais de processos fermentativos e enzimáticos. Tese de Doutorado, Faculdade de Engenharia Química de Lorena, Lorena, Brasil, 198p.
Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Química de Lorena, Lorena, Brasil, 101p.
FAENQUIL (Faculdade de Engenharia Química de Lorena). 2003. Disponível em: www.faenquil.br/gsmt-cipa/3normalizacao/mini_fis/mini_pdf/ciclo_hexano026.pdf.
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FENGEL, D.; WEGENER, G. 1989. Wood Chemistry, Ultra structure, Reactions. Berlin: Walter de Gruyter, 613p.
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