ÁREA: Química Orgânica

TÍTULO: Estudo fitoquimico de Stemodia maritima Linn

AUTORES: RODRIGUES, F. E. A. (UFC) ; ARRIAGA, A. M. C (UFC) ; SANTIAGO, G. M. P. (UFC) ; MAFEZOLI, J. (UNIFOR) ; BEZERRA, F. S. (UFC) ; OLIVEIRA, M. C. F. (UFC) ; LIMA, J. Q. (UFC) ; BRAZ-FILHO, R. (UENF)

RESUMO: O estudo fitoquímico de plantas medicinais trouxe, ao longo dos anos, contribuições relevantes na elucidação estrutural e na síntese de compostos com atividades biológicas relevantes. O objetivo deste trabalho foi o isolamento de metabólitos secundários de S. maritima com a finalidade de encontrar os princípios ativos responsáveis pelas atividades biológicas descritas para o gênero Stemodia. O fracionamento cromatográfico do extrato etanólico dos talos e do decocto das folhas da espécie estudada, gerou após tratamentos cromatográficos sucessivos, duas substâncias que foram identificadas através de técnicas espectroscópicas (RMN 1H, RMN 13C, IV, HMQC, HMBC, CG/EM) como sendo o flavonóide 5,7,4’-trihidróxi-3,8,3’-trimetóxi-flavona e o carboidrato tipo hexitol D-manitol.

PALAVRAS CHAVES: stemodia maritima, flavonóide, manitol

INTRODUÇÃO: A preocupação com a cura de doenças sempre se fez presente ao longo da história da humanidade. Muitas espécies vegetais e preparados vegetais medicinais usados na antiguidade são ainda hoje fontes de pesquisa, cada vez mais crescente a utilização de plantas no tratamento e na cura de enfermidades. A Organização Mundial de Saúde estima que 65-80% da população dos países em desenvolvimento dependem das plantas medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (WHO, 1998).
Diante desta realidade, iniciamos o estudo fitoquímico de espécies do gênero Stemodia que tem como objetivos o isolamento, a caracterização estrutural e a realização de ensaios biológicos com o intuito de associar as atividades biológicas descritas a seu(s) princípo(s) ativos.
O gênero Stemodia possui cerca de 40 espécies. Seus constituintes apresentam grande variedade estrutural dentre os quais destacam-se os esteróides, flavonóides e terpenóides, principalmente diterpenos tipo estemodano. Seus compostos apresentam diversas atividades biológicas, como antimicrobiana, antiviral e anticancer (LAMM, et al., 2006).
Stemodia maritima Linn, popularmente conhecida como melosa, apresenta-se como mata rasteira de grande abundância na região litorânea do Ceará. Em comunicação anterior (RODRIGUES, et al., 2007) relatou-se o estudo dos componentes químicos dos óleos essenciais e o isolamento de um triterpeno e uma mistura esteroidal oriundos do extrato etanólico de S. maritima. Dando continuidade ao estudo químico da referida espécie, este trabalho mostra o isolamento de 5,7,4’-trihidróxi-3,8,3’-trimetóxi-flavona e D-manitol.


MATERIAL E MÉTODOS: As folhas e talos de S. maritima foram coletadas no município de Flexeiras-CE, em 14 de Janeiro de 2006. Seus talos (200g) foram triturados mecanicamente e extraídos exaustivamente com etanol, à temperatura ambiente. Durante a obtenção do extrato dos talos (SMTE-S) observou-se formação de um precipitado esverdeado (150,0 mg), o qual foi submetido a sucessivos processos de recristalização com metanol obtendo-se 80,0 mg (0,04%) de um sólido branco amorfo solúvel em água. O composto isolado foi submetido a análises espectroscópicas (RMN 1H, RMN 13C, IV, CG/EM) e foi denominado SM-1.
Após a extração do óleo essencial das folhas através do processo de hidrodestilação, o decocto (2,5 L) foi submetido à cromatografia de partição líquido-líquido com acetato de etila. A fase orgânica foi evaporada sob pressão reduzida, originando seu respectivo extrato (SMFAD, 8,390g). Este extrato (4,0g) foi cromatografado em coluna contendo gel de sílica utilizando-se clorofórmio, acetato de etila e metanol, em gradiente de polaridade como fases móveis.
A fração clorofórmica (SMFAD-C, 1,42 g, 35,5%) apresentou-se como um sólido de aspecto amarelado, solúvel em metanol e foi submetido à cromatografia do tipo “flash” obtendo-se 6,5 mg (0,46%) de um sólido amorfo amarelo denominado SM-2. O composto isolado foi submetido a diferentes análises espectroscópicas (RMN 1H, RMN 13C, IV, HMQC, HMBC, CG/EM).



RESULTADOS E DISCUSSÃO: O espectro de RMN 13C-BB de SM-1 exibiu sinais em 63,35, 69,43 e 70,99 ppm atribuídos a carbonos carbinólicos. A presença destes sinais nos levaram a supor que SM-1 se tratava de um açúcar simples.
Seu espectro de RMN 1H confirmou esta suposição, pela presença de sinais na região de prótons ligados a carbonos sp3 oxigenados entre 3,91-3,69 ppm (7 H). Os dados aqui discutidos, fortaleceram a proposição de um açúcar para SM-1 e a comparação com dados da literatura (LENGELER, 1975) confirmou a estrutura do D-manitol.
O espectro de RMN 1H de SM-2 apresentou sinais entre 3,80-7,71 ppm característicos de fenilpropanóides. Os sinais em 3,80, 3,88 e 3,94 ppm foram atribuídos a metoxilas. Na região de prótons aromáticos, observaram-se os sinais em 6,94, 7,64 e 7,71 ppm que evidenciaram um sistema aromático trissubstituído e mostrou ainda um sinal simples em 6,51 ppm atribuído a um hidrogênio aromático pentassubstituído.
O espectro de RMN 13C–BB mostrou 9 linhas espectrais, nos quais os sinais em 56,73, 60,76 e 61,08 ppm foram associados a metoxilas. Observaram-se três sinais entre 95,33-123,87 ppm relacionados a carbonos metínicos e um sinal em 180,40 ppm referente a carbono carbonílico de cetona conjugada. Os demais sinais foram observados através dos deslocamentos químicos dos “croos-peaks” presentes, fornecendo mais 9 sinais, propondo uma estrutura com 18 átomos de carbono.
Diante da análise dos experimentos obtidos para o composto SM-2 e a comparação com dados da literatura (HORIE, et al., 1989) chegou-se a conclusão que o composto isolado tratava-se da 5,7,4’-trihidróxi-3,8,3’-trimetóxi-flavona, isolado anteriormente em espécies da família Scrophulariaceae e relatado pela primeira vez no gênero Stemodia.





CONCLUSÕES: A análise dos experimentos uni e bidimensionais e a comparação com dados da literatura permitiu concluir que a substância denominada SM-2 de natureza flavonoídica isolada de S. maritima tratava-se da 5,7,4’-trihidróxi-3,8,3’-trimetóxi-flavona, inédita no gênero Stemodia. Os dados espectroscópicos analisados para SM-1 permitiram identificá-la ao açúcar D-manitol também descrito pela primeira vez para o gênero

AGRADECIMENTOS: FUNCAP,CNPq,CAPES pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: HORIE, T.; TSUKAYAMA, M.; KAWAMURA, Y.; YAMAMOTO, S. 1988. 3,5-Dihydroxy-7,8-dimethoxyflavones and revised structures for some natural flavones. Phytochemistry, 27: 1491-1495.

HUFFORD, C.D.; BADRIA, F.A.; ABOU-KARAM, M.; SHIER, W.T.; ROGERS, R.D.1991. Preparation, characterization, and antiviral activity of microbial metabolites of stemodin. Journal of Natural Products, 54: 1543-1552.

LAMM, A.; REYNOLDS, W.F.; REESE, P.B. 2006. Bioconversion of Stemodia maritima diterpenes and derivatives by Cunninghamella echinulata var. elegans and Phanerochaete chrysosporium. Phytochemistry, 67: 1088-1093.

LENGELER, J. 1975. Mutations affecting transport of the hexitols D-mannitol, D-glucitol, and galactitol in Escherichia coli K-12: isolation and mapping. Journal of bacteriology, 124: 26-38.

RODRIGUES, F.E.A,; ARRIAGA, A. M. C.; SANTIAGO, G. M. P.; LIMA, J. Q.; MAFEZOLI, J.; BEZERRA, F. S.; OLIVEIRA, M. C. F.; BRAZ-FILHO, R. 2007. 30a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. 1998, Regulatory situation of herbal medicines: a worldwide review.