ÁREA: Química Orgânica

TÍTULO: EFEITO DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA NA ESTABILIDADE DE EXTRATOS DE PRÓPOLIS COM POTENCIAL ATIVIDADE FOTOPROTETORA

AUTORES: MORAES, R.R. DE - UFPI
CALLAND, L.B. - UFPI
ARAÚJO JÚNIOR, E.A. - UFPI
CITÓ, A.M.G.L. - UFPI
MOITA, G.C. - UFPI

RESUMO: Uma tendência bastante promissora é a associação de extratos naturais a filtros solares, uma vez que podem intensificar a proteção final do produto. A própolis é uma resina de coloração e consistência variada que apresenta amplo espectro de ação fotoprotetora. Para que seja utilizado em uma formulação cosmética um filtro UV deve ser estável fotoquimicamente, de modo que não haja reações fotoalérgicas com a pele e que não comprometa o fator de proteção solar (FPS) do produto. Neste trabalho investigou-se a fotoestabilidade de extratos etanólicos de própolis (EEP), empregando câmara de irradiação UV construída com materiais de baixo custo. Os espectros de absorção obtidos mostram efeito fotodegradativo de pequena intensidade, mas confirmam o emprego de EEP como agentes antisolares.

PALAVRAS CHAVES: própolis, radiação ultravioleta, fotoestabilidade

INTRODUÇÃO: O fotoenvelhecimento e o câncer de pele são alguns dos efeitos deletérios causados pela radiação ultravioleta (UV) (KIMBROUGH, 1997). A proteção efetiva contra essa radiação está disponível na forma de preparações para uso tópico, contendo filtros solares. Uma tendência bastante promissora é a associação de extratos naturais aos filtros químicos, uma vez que comprovada sua eficiência absorvedora, podem intensificar a proteção final do produto (SERPONE et al., 2002). A própolis é uma resina de coloração e consistência variada coletada por abelhas da espécie Apis mellifera de diversas partes das plantas como brotos, botões florais e exsudatos resinosos, apresentando várias atividades farmacológicas, tais como antioxidante, antiinflamatória, antibacteriana, antiviral, antifúngica e antitumoral (LIMA, 2006; SILVA et al., 2005). Para que seja utilizado como agente antisolar, a própolis deve ser estável fotoquimicamente, não originando compostos fototóxicos e/ou sensibilizantes e não comprometendo o Fator de Proteção Solar (FPS) do produto. Neste trabalho investigou-se a fotoestabilidade de extratos de própolis, empregando uma câmara de irradiação UV de baixo custo.

MATERIAL E MÉTODOS: Para a realização do experimento foi montada uma câmara de irradiação com dimensões internas de 50 cm x 50 cm x 60 cm. Uma lâmpada de vapor de Hg de 125 W foi fixada num suporte e na parte superior adaptou-se um ventilador para sugar o ar interno e refrigerar o sistema. As amostras de própolis utilizadas neste trabalho foram obtidas nos estados do Piauí (Pio IX: PI-P9; Campo Maior: PI-CM), Pernambuco (Vermelha: PE-VM) e Minas Gerais (Verde: MG-VD). Para obtenção dos extratos etanólicos de própolis (EEP) cortou-se a amostra em pequenos pedaços e pesou-se 2,0 g para extração, utilizando como solvente extrator 25 mL de etanol:água 8:2. Realizou-se a extração como segue: aquecimento da mistura por 30 minutos a 70 ºC; banho ultra-sônico durante 10 minutos; centrifugação por 15 minutos a 4500 rpm; separação do sobrenadante (EEP) e acondicionamento em refrigerador ao abrigo da luz (PARK et al., 1998). Após a extração, alíquotas de 50 microlitros de cada EEP foram irradiadas, em intervalos crescentes de exposição, por até duas horas. Então, diluiu-se com etanol os EEP irradiados, em balões volumétricos de 10 mL. Finalmente, obteve-se os espectros de absorção na região do UV (200-400 nm).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Figura 1 evidencia as mudanças espectrais para os EEP analisados após a irradiação com lâmpada UV. Os extratos de própolis estudados apresentam bandas de absorção intensas no UV, sugerindo que a incorporação destes a um protetor solar levaria a um aumento no FPS da formulação. Os EEP contêm flavonóides e por isso são capazes de absorver a luz UV, credenciando-os como agentes antisolares (LIMA et al., 2006). Por outro lado, nota-se que, de modo geral, há pequena diminuição global na absorbância, com certa estabilidade a partir de 30 minutos, além de mudanças no formato dos espectros de absorção. Isto levaria a um baixo impacto negativo no FPS e na eficiência dos extratos contra os efeitos prejudiciais da radiação UV (TARRAS et al., 1999). Com base na intensidade e faixa de absorção, a amostra MG-VD apresentou maior potencial fotoprotetor, seguido por PI-P9, PE-VM e PI-CM. FPS é uma medida associada a eritema, representando somente a proteção contra raios UVB (290-320 nm) (KIMBROUGH, 1997). Normalmente os extratos naturais propiciam produtos fotoprotetores com FPS de valor baixo. No entanto, se associados aos filtros químicos e físicos, potencializam a fotoproteção.




CONCLUSÕES: Este trabalho demonstrou a importância e o interesse de utilizar EEP em preparações antisolares, pois absorvem radiações UV e apresentam amplo espectro de ação fotoprotetora. As propriedades de absorção dos EEP são modificadas após irradiação com lâmpada UV, evidenciando que a energia absorvida pode ser dissipada por processos fotodegradativos de pequena intensidade. A metodologia empregada é relativamente simples, como também a compreensão dos mecanismos de absorção molecular no UV.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA:KIMBROUGH, D. R. The photochemistry of sunscreens, J. Chem. Educ., v. 74, p. 51-53, 1997.
LIMA, M.G. de. A produção de própolis no Brasil. São Paulo: S. Sebastião, 2006, 120 p.
PARK, Y.K.; IKEGAKI, M.; ABREU, J.A. da S.; ALCICI, N.M.F. Estudo da preparação dos extratos de própolis e suas aplicações. Ciênc. Tecnol. Aliment. v. 18, n. 3, p. 313-318, 1998.
TARRAS-WAHLBERG, N.; STENHAGEN,G.; LARKO, O.; ROSE´N, A.; WENNBERG, A.M.; WENNERSTROM, O. Changes in ultraviolet absorption of sunscreens after ultraviolet irradiation. J. Inv. Derm. v. 113, n. 4, p. 547-553, 1999.
SERPONE, N.; SALINARO, A.; EMELINE, A.V.; HORIKOSHI, S.; HIDAKA, H. An in vitro systematic spectroscopic examination of the photostabilities of a random set of commercial sunscreens lotions and their chemical UVB/UBA activities agents. Photochem. Photobiol. Sci. v. 1, p. 970-981, 2002.
SILVA, M.S.S. da; CITÓ, A.M.G.L.; CHAVES, M.H.; LOPES, J.A.D. Triterpenóides tipo cicloartano de própolis de Teresina-PI. Quim. Nova. v. 28, n. 5, p. 801-804, 2005.