Autores
Nascimento, J.C. (IFSUDESTEMG) ; Dias, F.A.C. (IFSUDESTEMG) ; Toledo, T.A. (IFSUDESTEMG) ; Barbosa, D.B.A. (IFSUDESTEMG)
Resumo
O estudo da química muitas vezes se mostra distante da vida de um discente do ensino médio. Diante disso, aulas práticas que mostrem a aplicação dos conteúdos aprendidos na teoria tornam-se essenciais para que o aluno possa fixar o que lhe foi ensinado. O uso do Reativo de Benedict para exemplificar como funcionam reações de oxirredução, química orgânica e carboidratos, somado ao conhecimento já adquirido em aulas teóricas, aguça a percepção do estudante para estas matérias, levando-o a consolidar a aprendizagem dos conteúdos químicos.
Palavras chaves
Prática pedagógica; Reação de Benedict; Ensino de Química
Introdução
A integração do ensino de Química com atividades experimentais adquire fundamental importância para a prática pedagógica, pois proporciona aos alunos a vivência e a compreensão de como se processa a construção dos conceitos químicos e os levam a uma aprendizagem mais profunda acerca dos assuntos abordados (TREVISAN, MARTINS, 2008; SILVA et al, 2012; SILVA, MACHADO, 2008; SCHNETZLER, ARAGÃO, 1995). A articulação do conhecimento teórico com a prática em laboratório somado a questões sociais favorece o desenvolvimento de cidadãos críticos e conscientes, capazes de interferir nas situações que representam risco ou ameaça a sua qualidade de vida (TREVISAN, MARTINS, 2008; SILVA et al, 2012; SILVA, MACHADO, 2008; SCHNETZLER, ARAGÃO, 1995. Assim, com o intuito de contribuir para a aprendizagem significativa dos alunos e proporcionar uma prática pedagógica dinâmica, esse trabalho visou abordar o assunto Funções Orgânicas, com ênfase para aldeídos e cetonas e contextualizar com a identificação de açúcares redutores pelo reagente de Benedict.
Material e métodos
Esse trabalho foi realizado no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, com alunos do 3º ano do ensino médio integrado ao curso técnico. Inicialmente, foram abordadas, em aulas teóricas, as funções orgânicas aldeído e cetona, exemplificando essas funções com as moléculas de glicose e de frutose. Em seguida, foi realizada uma explanação sobre carboidratos e sua importância para os seres humanos, relembrando com os alunos seu papel estrutural e metabólico. Em continuidade, foram apresentadas várias estruturas de sacarídeos para a identificação da função química, identificação das ligações glicídicas e do carbono anomérico. Com ênfase na glicose, o principal monossacarídeo de importância biológica, foi abordado o assunto referente à patologia associada ao seu metabolismo: o diabetes melitus. Contextualizando com a determinação de glicose no sangue e na urina, foi apresentado o reativo de Benedict e o seu mecanismo de reação, relembrando os conceitos de oxi-redução. No laboratório, os alunos preparam o reativo (HENRY, 2008) e soluções com concentração de 0,1M de sacarose, glicose, amido e ácido ascórbico. Com o auxílio da pipeta, transferiram 2 mL do reativo para tubos de ensaio previamente identificados e adicionaram 0,5 mL das soluções de açúcares e de ácido ascórbico para cada tubo. Como controle negativo, um tubo foi identificado como “branco” e continha o reativo e água destilada. Neste momento, foi solicitado que anotassem a coloração das amostras. Para prosseguimento do experimento, os tubos foram acondicionados em banho d’água fervente por 5 minutos e, em seguida, observada a reação pela mudança da coloração.
Resultado e discussão
A partir da análise da tabela 1 com as amostras e das colorações foram feitas
inferências sobre as possíveis reações ocorridas. A coloração inicial do reativo
é azul,sendo mantida no tubo “branco” após aquecimento,como esperado,uma vez que
a água não é um açúcar redutor.Nas amostras com açúcares que apresentaram
alteração de cor,a glicose (monossacarídeo), reage positivamente frente à
redução dos íons cobre. O aquecimento do açúcar redutor em presença de íons
Cu(II) e OH-reduz o cobre a Cu(I) e o açúcar é oxidado, havendo a
formação de precipitado de Cu2O que varia de cor de acordo com a
concentração do açúcar redutor (OLIVEIRA et al, 2006;FIGUEIRA,ROCHA, 2012).
Para os dissacarídeos promoverem a formação do precipitado precisam da presença
de uma extremidade redutora,o que não ocorre com a sacarose. O açúcar de cana é
um dissacarídeo de glicose e frutose e não possui átomos de carbono anomérico
livres,pois esses estão ligados entre si e,consequentemente,não podem sofrer
oxidação (FIGUEIRA,ROCHA,2012).
O amido,um polímero de glicose,também é um açúcar não redutor,não devendo
apresentar a formação de precipitado. Contudo,devido ao aquecimento,supõe-se que
houve a hidrólise da molécula pelo calor,produzindo monossacarídeos e
positivando a reação de Benedict. Na perspectiva de mostrar a possibilidade de
falso-positivo das reações, foi testado o ácido ascórbico, que age como um forte
agente redutor e induz a formação do precipitado. No contexto de análise de
triagem de glicosúria em urina pela reação de Benedict, é importante considerar
a utilização de medicamentos que contenham o ácido ascórbico ou outros agentes
redutores, pois pode-se liberar um resultado com dados incorretos HENRY, 2008).
Alteração da cor do reativo de Benedict após aquecimento
Conclusões
A interação do conhecimento teórico aliado à prática em laboratório, contextualizado com situações cotidianas mostrou-se eficiente. Pode-se perceber a aceitação e entusiasmo dos alunos com a metodologia empregada e a efetiva participação nas atividades. Ademais,foi possível rever procedimentos de segurança em laboratórios e a utilização das vidrarias. Por fim,a participação ativa dos alunos contribui para o desenvolvimento de habilidades,capacitando-os a elaboração de hipóteses,observação de resultados e argumentação de conclusões,favorecendo a melhor compreensão dos conhecimentos científicos.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – campus Juiz de Fora e a FAPEMIG pela bolsa concedida.
Referências
FIGUEIRA, A.C.M.; ROCHA, J.B.T. Açúcares redutores no ensino superior: atividades baseadas na resolução de problemas. Experiências em Ensino de Ciências, v. 7, n. 3, 2012.
HENRY, J.B. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20ª edição, São Paulo: Editora Manole, 2008.
OLIVEIRA, R.O.; SANTA MARIA, L.C.; MERÇÓN, F.; AGUIAR, M.R.M.P. Preparo e emprego do reagente de Benedict na análise de açúcares: uma proposta para o ensino de química orgânica. Química Nova na Escola, n. 23, mai 2006.
SCHNETZLER, R.P.; ARAGÃO, R.M.R. Importância, sentido e contribuições de pesquisas para o ensino de Química. Química Nova na Escola, n. 1, mai 1995.
SILVA, R.R.; MACHADO, P.F.L.; Experiments in High School Chemical Education: the necessary search for ethical-environmental conscience in use and discarding of chemical products. Ciência e Educação, v.14, n.2, p. 233-249, 2008.
SILVA, R.P.; SILVA, B.S.; LIMA, J.P. Limitações dos licenciandos na participação em atividades de pesquisa sobre o ensino de Química em um curso de licenciatura. In: XVI Encontro Nacional de Ensino de Química (XVI ENEQ) e X Encontro de Educação Química da Bahia (X EDUQUI), Salvador, 2012.
TREVISAN, T.S.; MARTINS, P.L.O. O professor de Química e as aulas práticas. In: Congresso Nacional de Educação, VII, 2008, Curitiba, Anais, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Editora Champagnat, Curitiba, 2008.