53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Ambiental

TÍTULO: INFLUÊNCIA DO TIPO DE ÁCIDO NA LIBERAÇÃO DE POTÁSSIO PRESENTE EM RESÍDUOS DE ROCHAS ORNAMENTAIS

AUTORES: Paula, A. (CETEM) ; Ribeiro, R. (CETEM)

RESUMO: O Brasil é um grande produtor de rochas ornamentais. Este setor gera grandes quantidades de resíduos, acarretando em acúmulo de poluentes e em impacto ambiental. A utilização do resíduo como fonte restituidora de nutrientes para o solo se mostra promissora para mitigar problemas ambientais e reduzir a importação de fertilizante potássico pelo Brasil. O objetivo deste trabalho foi a verificação do poder de ácidos inorgânicos na liberação de potássio contido em feldspatos de resíduos de rochas graníticas, visando o reaproveitamento deste material no setor agrícola. Foram realizados ensaios com os ácidos sulfúrico, nítrico e fosfórico, sendo o primeiro o que apresentou melhores resultados na extração de potássio, gerando maiores concentrações deste elemento em menos tempo.

PALAVRAS CHAVES: Resíduo de Rochas; Liberação de Potássio; Ataque Ácido

INTRODUÇÃO: O Brasil se destaca como um grande produtor de rochas ornamentais, ocupando o 4º lugar no ranking mundial de produção e 7º na exportação em 2012. A Região Sudeste detém cerca de 65% da produção nacional, sendo o Espírito Santo o Estado brasileiro com maior contribuição nessa produção. A indústria de mármores e granitos é uma das mais representativas e importantes da economia desse Estado. No entanto, o setor em questão gera grandes quantidades de resíduos oriundos do processo produtivo, acarretando em acúmulo de poluentes e em impacto ambiental (ABRIROCHAS, 2013). Dentre algumas linhas de aplicação, a utilização do resíduo como fonte restituidora de nutrientes para o solo se mostra uma ação bastante promissora. Os solos brasileiros apresentam, de forma geral, baixa fertilidade natural, o que exige intenso uso de corretivos agrícolas. Em virtude da pequena produção interna, comparada à grande demanda pelo produto, o Brasil situa-se no contexto mundial como grande importador de potássio fertilizante, dentre outros essenciais à agricultura (MACHADO e RIBEIRO, 2009). Contudo, o granito é uma rocha constituída essencialmente por ortoclásio, plagioclásio e quartzo, sendo o primeiro um silicato rico em potássio que mostra grande potencial como fonte natural deste elemento para uso agrícola. A inovação tecnológica para o aproveitamento dos resíduos do setor de rochas ornamentais é, desta forma, a linha mestra para solucionar questões de cunho econômico e ambiental. O objetivo deste trabalho foi, então, verificar o poder de ácidos inorgânicos na liberação de potássio contido em feldspatos de resíduos de rochas graníticas, visando o reaproveitamento deste material no setor agrícola.

MATERIAL E MÉTODOS: O resíduo utilizado nesse trabalho é oriundo de tanques de decantação de resíduos de serrarias de corte de granito da região de Cachoeiro de Itapemirim - ES. Os ácidos utilizados foram: ácido sulfúrico, ácido nítrico e ácido fosfórico, todos P.A. A amostra de resíduo foi beneficiada por meio de um processo de flotação, que foi responsável pela separação do quartzo e do feldspato. Para o desenvolvimento deste trabalho, utilizou-se a fração de feldspato, que foi peneirada até obtenção de tamanho de partícula inferior a 0,149 mm (peneira de 100 mesh). Realizou-se a homogeneização em pilhas longitudinais, onde foram separadas amostras destinadas aos ensaios de ataque ácido e as análises, química e mineralógica. Preparou-se soluções 1,0 mol/L de ácido sulfúrico, ácido nítrico e ácido fosfórico e retirou-se alíquotas de 80 mL de cada um dos ácidos, que ficaram em contato com 60g de resíduo em béqueres de 200 mL. A mistura foi colocada em agitação em aparelho da FANEM e, a cada hora, uma alíquota foi retirada de cada béquer e centrifugada, em aparelho de mesmo fabricante, sendo o sobrenadante avaliado, em termos de concentração de potássio, por Fluorescência de Raios–X (FRX) e o pó, avaliado por Difração de Raios-X (DRX). Os aparelhos utilizados na difração e na fluorescência de raios-x são, respectivamente, D4 ENDEAVOR e PANALYTICA AXIOS max. As avaliações foram realizadas até cerca de 100 h de contato entre o feldspato e cada ácido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na figura 1 estão apresentados os resultados da concentração de potássio em função do tempo, obtidos por meio de FRX, para cada tipo de ácido que reagiu com o feldspato. Há um aumento na concentração de potássio a medida que o tempo de contato entre o mineral e o ácido aumenta, independentemente do tipo de ácido, indicando a formação do respectivo sal de potássio. Quando se utilizam os ácidos sulfúrico e nítrico, maiores concentrações de potássio são obtidas. Tal fato está diretamente relacionado com o fato da constante de acidez desses ser muito mais alta (10²) que a constante de acidez do ácido fosfórico (7,5x10-3). Além disso, deve-se conceituar que o feldspato é considerado um ácido de Lewis e os íons, sulfato e nitrato, são considerados bases de Lewis (SHRIVER e ATKINS, 2006). Ácidos duros ligam-se preferencialmente às bases duras, pois ocorre maior estabilidade termodinâmica das novas ligações formadas. Ademais, o ácido sulfúrico apresenta maior força pelo fato do enxofre (elemento central) apresentar a maior carga positiva (+6) em relação aos demais ácidos nítrico e fosfórico (+5), visto que a força do ácido é diretamente proporcional ao aumento da carga do elemento central e do decréscimo do raio. Na figura 2 estão apresentados os resultados da avaliação mineralógica do feldspato, após ataque com os ácidos, em função do tempo de exposição. Pode-se verificar o surgimento do pico da caulinita (indicado pela seta nos DRXs) de forma mais significativa e em menores tempos no material que reagiu com os ácidos sulfúrico e nítrico. O hidrogênio desloca o potássio do feldspato, desestruturando a estrutura cristalina do feldspato e se combinando com o íon alumino-silicato do feldspato para formar caulinita.

Figura 1

Concentração de potássio em função do tempo para cada ácido.

Figura 2

DRX dos ácidos sulfúrico, nítrico e fosfórico, respectivamente.

CONCLUSÕES: Pôde-se concluir que a extração de potássio de resíduos de rochas é tecnicamente viável, por meio de ataque ácido. No entanto, o tipo de ácido utilizado afetará significativamente na desestruturação do mineral para liberação do potássio. No caso em estudo, o ácido sulfúrico apresenta maior capacidade para esse processo e maior liberação do potássio, em menor tempo, que os demais ácidos.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ABIROCHAS - Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais. 2013. Informe. São Paulo, Brasil.
MACHADO, R. V.; RIBEIRO, R. C. C. 2009. Nutrição Mineral do Cafeeiro e da Mamoneira e a Utilização de Rejeitos de Rochas Ornamentais na Agricultura, Anais da XVIII Jornada de Iniciação Científica do CETEM, Rio de Janeiro, RJ.
SHRIVER, D. F.; ATKINS, P. W. 2006. Química Inorgânica, 3ª ed., São Paulo: Bookman.